Por: Alberto Cordeiro

Você já deve ter ouvido a frase “aprecie com moderação”. E essa expressão se encaixa perfeitamente no aspecto da atividade física, pois não adianta abusar na sobrecarga de treinos esperando aumento de desempenho: saber dosar a proporção estímulo/recuperação parece ser a forma ideal para obter benefícios e se distanciar de um possível overtraining.

A síndrome do supertreinamento, também conhecida como overtraining, acomete muitos corredores e atletas em geral, em diferentes fases do treinamento. Os sintomas são comumente negligenciados, dificultando, assim, possíveis diagnósticos.

Pode-se definir o overtraining como um desequilíbrio entre os fatores de estresse que envolvem o treinamento e uma recuperação inadequada, levando ao esgotamento do organismo.

O aumento do nível de rendimento na modalidade que se pratica acontece a longo prazo. Assim, por mais que façamos muitos treinos e atividades por determinado período, a excelência na modalidade só realmente virá no decorrer de anos de treinamento. Diante disso, é ineficaz pular etapas do treinamento e elevar excessivamente o volume de treinos, e principalmente de provas, nos primeiros anos de prática da corrida. Não é difícil encontrar relatos de atletas que, no primeiro ano de corrida, realizam uma súbita progressão das distâncias, indo dos 5km aos 21km ou, em alguns casos extremos, até mesmo aos 42km. 

É equivocado imaginar que a síndrome do overtraining atinge exclusivamente atletas profissionais. Muito pelo contrário, esses atletas, de um modo geral, têm mais recursos dentro de uma equipe multiprofissional capacitada, minimizando os riscos para o surgimento da síndrome do supertreinamento. Já o atleta amador, na maioria das vezes, abstém-se de recursos técnicos e profissionais, ficando mais frequentemente exposto a um descontrole das cargas de treino, situação que favorece o surgimento do overtraining.

Principais sintomas característicos da síndrome do overtraining:

• fadiga crônica;

• alteração na frequência cardíaca;

• perda de massa muscular;

• distúrbios hormonais;

• diminuição do rendimento (sintoma mais acentuado);

• surgimento de recorrentes lesões.

Dicas do treinador:

• Para quem treina com qualidade, o descanso é parte fundamental do treino, gerando uma consequente melhora do desempenho.

• Respeite o intervalo de descanso entre as sessões de treinos.

• Treine para fazer provas, mas não substitua seus treinos por participação excessiva em provas. 

• A qualidade da sua alimentação deve ser proporcional à qualidade dos seus treinos.

• Cuidado com o volume (alta quilometragem) de treino. Estudos mostram mais correlações do overtraining com o volume (quantidade) do que com a intensidade (qualidade) do treinamento. 

• Não confunda o cansaço transitório gerado por um período de choque (cargas elevadas em determinado período de treinos) com a fadiga generalizada e crônica, esta, sim, indício de possível overtraining.

• Se você está precisando treinar muito (quantidade) para tentar conseguir resultados positivos, talvez seja necessário rever sua programação, pois provavelmente a sessão dos seus treinos pode não conter a intensidade (qualidade) suficiente para gerar a melhora no desempenho.

Usando uma sábia expressão do senso comum: “o corpo fala”. Assim, respeitar os limites do organismo e ter um acompanhamento profissional adequado são atitudes que certamente irão favorecer o aumento da performance dentro de um treinamento seguro e eficaz, evitando, desse modo, o surgimento do overtraining.

Referências: 

– COSTA, L.O.P.; SAMULSKI, D.M. Overtraining em Atletas de Alto Nível – Uma Revisão Literária. R. bras. Ci e Mov. 2005; 13(2): 123-134.

–  MORGAN, W.P; FACSM EdD;  BROWN D. R.; RAGLIN J.S.; O`CONNOR P.J. Psychological monitoring of overtraining and staleness – Brit. J. Sports Med – Vol.21 1987; 107 – 114.

– LEHMANN M,; GASTMANN U.; PETERSEN K.G.; BACHL N.; SEIDEL A.; KHALAF A.N.; FISCHER S.; KEUL J. Training – overtraining: Performance, and hormone levels, after a defined increase in training volume versus intensity in experienced middle – and long – distance runners – Br J Sports Med 1992;26:233-242 doi:10.1136/bjsm.26.4.233

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